Manhã qualquer - poema

 


Balada dos quatro ventos 

Marigê Quirino Marchini

São Paulo, 1955 


pg 23

MANHÃ QUALQUER 


A chuva nos telhados ...

Seiva de sândalo

como se a manhã 

fosse uma grande árvore cortada 

em perfume.

Dissipadas estavam

as linhas retas dos vôos:

nos canais cinzas dos ventos

as asas transformavam-se 

em gôndolas estáticas de sonho.

O canto único

do dedilhar do frio

nas cordas tesas das águas 

adormecia os olhos

prisioneiros de vidros.

Neles nascia

o apelo reiterado

de horizontes intocáveis,

e o verde do silêncio

cobria o levantar das pálpebras. 

Dentro dos olhos, a manhã

era mais erva do que tempo. 


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