Posts

Manhã qualquer - poema

  Balada dos quatro ventos  Marigê Quirino Marchini São Paulo, 1955  pg 23 MANHÃ QUALQUER  A chuva nos telhados ... Seiva de sândalo como se a manhã  fosse uma grande árvore cortada  em perfume. Dissipadas estavam as linhas retas dos vôos: nos canais cinzas dos ventos as asas transformavam-se  em gôndolas estáticas de sonho. O canto único do dedilhar do frio nas cordas tesas das águas  adormecia os olhos prisioneiros de vidros. Neles nascia o apelo reiterado de horizontes intocáveis, e o verde do silêncio cobria o levantar das pálpebras.  Dentro dos olhos, a manhã era mais erva do que tempo. 

Diário de Bordo, de Marigê - livro completo, índice

ÍNDICE do conteúdo completo do livro Diário de Bordo, de Marigê Quirino Marchini, publicado quando a autora tinha a idade de 21 anos, em 1958. O livro foi escrito entre 1955 e 1957.   Boa leitura!  ÍNDICE   parte 1  https://marigequirinomarchini.blogspot.com/p/diario-de-bordo-livro-de-marige.html parte 2.1 https://marigequirinomarchini.blogspot.com/p/diario-de-bordo-parte-21-de-marige.html parte 2.2 https://marigequirinomarchini.blogspot.com/p/diario-de-bordo-parte-22-de-marige.html parte 2.3 https://marigequirinomarchini.blogspot.com/p/diario-de-bordo-parte-23-de-marige.html parte 2.4 https://marigequirinomarchini.blogspot.com/p/diario-de-bordo-parte-24-de-marige.html parte 2.5 https://marigequirinomarchini.blogspot.com/p/diario-de-bordo-parte-25-de-marige.html parte 2.6 https://marigequirinomarchini.blogspot.com/p/diario-de-bordo-parte-26-de-marige.html parte 2.7  https://marigequirinomarchini.blogspot.com/p/diario-de-bordo-parte-27-de-marige.html parte 3.1 https://marigequirinomarch

De Diário de Bordo - Suíte dos Pássaros

  Suite dos pássaros ,  de Marigê Quirino Marchini Diário de Bordo , 1958 página 239   II Terrenos foram sulcados.  Ai, o arado da chuva! Plantai sementes de lua,  depressa, enquanto os dias dormirem. Quatro pássaros noturnos farão o giro da noite e precisam de alimento. Norte sul leste e oeste.  (Onde está o louco invento que me permita evasão?) Colhei os frutos da lua, irmão.  Cinco pássaros noturnos farão o giro da noite e precisam de alimento. Norte sul leste oeste vento.  ***

Balada dos quatro ventos - página 18 ss - Marigê

Image
  CADÊNCIA  A noite campeia. A noite campeia  com um laço de vento,  rédea de estrelas.  A noite campeia os desvairados sonhos perdidos  que fogem, devoram as claras vigílias.  A noite campeia.   Que aperte em seu laço, desejos sem dono  - tão longe estão que mais se assemelham a vagos luares.  Que aperte em seu laço, não importa se então  os vagos desejos, luares sem dono,  sejam levados às terras marcadas dos sonhos inúteis.  Que a noite campeie.   Marigê Quirino Marchini   Balada dos Quatro Ventos São Paulo, 1956.  página 18  ...                                                                                                          Photo by  Paige Weber  on  Unsplash Vocabulário  Campear (uso brasileiro): andar no campo a cavalo à procura de gado; campeirar. 

Balada dos Quatro Ventos - páginas 11 a 17 - 1956

Um poema para Mozart inicia esta seção. Marigê é uma poeta contemplativa e filosófica, sua poesia é uma elaboração estética elevada, e exige empenho de quem empreende a leitura, e provavelmente essas características a diferenciam da tradição lírica comum em terras brasileiras.   página 11    BALADA DE 27 DE JANEIRO DE 1756  No momento revelado em que Pan soou sua flauta, a relva amparou a relva no verde estático da manhã. As túnicas vegetais imobilizaram seus gestos  de pássaros e vento.  E as nuvens paralisadas em algemas de promessa eram pranto contido nos olhos do vale. Cessou o murmúrio antigo com sabor de dríades. Nascia uma criança, e na música de suas mãos  Pan colocou o silêncio das coisas inanimadas  para que ela o transformasse em flautas múltiplas de mistério e tempo.    --- página 12  VERÃO  A Françoise Sagan   Dança o verde nas folhas e as sombras dos pinheiros formam um ballet aquático no retângulo do lago.  Dançam os pássaros, numa roda de gorjeios, sobre a claridade d

Balada dos Quatro Ventos - 1956

Balada dos Quatro Ventos Marigê Quirino Marchini São Paulo, 1956 página 7 BALADA DA COR A Renato Gutussa.   Antes era o verde. A vibração das cores não abrangia o ouvido das coisas. Havia uma uniformidade quieta perdida entre a espera e o tom. As árvores pesadas ainda ignoravam o desdobrar do gesto em pássaros e frutos, e a relva humilde não desprendera do todo compacto seus dedos leves, feitos para as últimas ressonâncias dos luares. Mas a imagem desceu, as mãos de chuva suspendendo espaços florais. O claro rosto em mosaico de dias vividos e tardes irrealizadas. Lenta como o sorriso dos anjos, seus pés marcavam o roteiro das asas das abelhas que viriam deixando luzes de pólen nos caminhos estéreis.  Jardins equilibraram-se em seus olhos onde a música sem princípio escolheria o começo. Então rolaram mundos como órbitas cheias de orvalhos e seiva luminosa sobre o verde do antes e da sombra. ... página 8 PASTORAL Nos violoncelos verdes dos bojos das árvores, o molto moderato da escala

Da Tripulação - em Sonetos do Imperfeito - do Mar

Image
  Sonetos do Imperfeito: Do Mar   DA TRIPULAÇÃO  Os tripulantes são meus sentimentos  de um azul andantino nestes mares, na alternância das vagas em lamentos. Leva o prumo das linhas estelares os olhos do abissal ao infinito, o que já não aquieta o coração: antes o traz por música celeste, pelo surdo marulho dos abismos suspenso em si, no mar, no precipício. E se um silêncio cresce no intervalo de um suspiro, das ondas, tempestade, revoltam-se do ser as ressonâncias,  pedem ao céu o eterno de outros mares, perdem no mar o efêmero dos céus. MARIGÊ QUIRINO MARCHINI  Sonetos do imperfeito Littera Editores, 1984  página 13   Veja também o livro  Diário de Bordo, de 1958