Diário de Bordo, parte 2.1 - de Marigê

 Diário de Bordo, de Marigê Quirino Marchini.

São Paulo, 1958.

Parte 2 - Liturgia em azul bemol.

Neste blog, parte 2.1 - Devido a ser uma parte mais extensa, será apresentada em diversas seções neste blog.

#paratodosverem. As imagens nesta página são do livro, e seu conteúdo é o mesmo da parte digitada anteriormente à imagem. A numeração é do blog. Posteriormente, se conseguir, incluirei áudio.


A seguir, imagem da folha de rosto da parte 2 do livro, o título Diário de Bordo no centro da página. Nome da parte em baixo da página, Liturgia em azul bemol. A página do livro tem manchas decorrentes do tempo por ser um livro antigo que foi recuperado de um sebo.

1.
Quem carrega o sorriso dos anjos
momentaneamente?
Somente as transparências
que bordaram no linho aquático
as iniciais, antes do poema.
Mas a glória das peregrinações
de azuis amparados pela estrela
pertence à palavra
apenas. 




2.
Triângulos de auroras
definidos pela ausência de névoa,
acorrentados entre si na comunhão do musgo
e decifráveis.
Sabe-o minha festa infantil 
que arrombou o destruído
e bailou com uma demência do costumeiro
sobre a limpidez opaca de alamedas. 
No parque das amoreiras
é o tesouro que vigia os labirintos,
dançando. 




3.
Os lírios azuis
florescerão nas fendas dos luares
e seus perfis serão portas
onde os duendes chamarão
a ronda mágica
das clareiras cintilantes.

Hansel e Gretel passearão em minha infância. 




4.
CARTA

Todas as ruas são escuras, é lua nova.
Os lagartos comem o azul das pedras
que iniciam mais para lá o cais.
Depois dos navios e disputas com nossos cansaços,
as cavernas dos piratas
serão mais do que medo, tesouros;
enterrar as mãos num roteiro,
oh, um papagaio que fala a língua dos deuses! ... 
Meu irmão, eu irei contigo buscar a noite.
Perto de cada demora
o guardião é um espectro hesitante,
num balanço de vento
roubaremos sua lanterna;
amarrado depois
não poderá ordenar aos espíritos o agouro às estrelas.
Essa tempestade
é um caminho mais aberto do que os outros
mais fácil que as calmarias
tatuagem de raio, talvez, em nosso destino
por isso vou te encontrar ainda com este mesmo vento e a lua nova.
Quase todos em um sonho foram mais do que eles mesmos
serás rei e eu rainha ainda antes da coroa
enterrada eternamente que acharemos.
Um menino e uma menina abraçados 
na mesma morte. 

...



5.
Em minha garganta
o talismã do cântico dos cisnes. 


6.

No colo dos cisnes
o colar das lendas esquecidas.

Quando foi que eu fui princesa
e dava migalhas de flores
aos cisnes da primavera?  






Comments

Popular posts from this blog

Diário de Bordo, de Marigê - livro completo, índice

Balada dos quatro ventos - página 18 ss - Marigê

Acesso ao livro Diário de Bordo, de Marigê