Diário de Bordo - parte 2.4 - de Marigê
Diário de Bordo, de Marigê Quirino Marchini.
São Paulo, 1958.
Parte 2 - Liturgia em azul bemol.
Neste blog, parte 2.4 - Devido a ser uma parte mais extensa, será apresentada em diversas seções neste blog
A partir desta página, vou inserir apenas os textos. Depois, se possível, incluirei as imagens.
...
1. página 69
"Jacó venceu um anjo do Senhor"
Eis a humana carência
a luta e o anjo.
Eterna
colisão de pensamento e asa.
Esse que traz virtude sem neve
e um sorriso e uma túnica,
o poder sobre os falcões sagrados
sobre os ídolos crescentes como juncos
na foz da verdade,
que pisa a grama mais leve e a faz caminho
como do horizonte o círculo perfeito,
podendo rir um momento de si próprio
em cada espelho duplicando sua beleza
porque desejo mais fortificado -
será o vencido.
Mais sabem do que ele os que trabalham
o mar ou a terra,
todos os golpes de dormir.
Têm as duas partes da parábola:
a chaga em seus peitos
e o sol que a cega.
2. página 70
Guardas florestais
que açulam seus cães contra o vento
e colhem da mesa dos pássaros
frutos vermelhos.
Laços de seda.
Pescadores
demasiado pensativos em seus peixes
para enxugar o sal da face.
Arma tridente.
Bocas entoando como esta
a feiura sorvida nos reflexos
dos regatos vazios.
Força do nada.
3. página 71
SONHO DE UMA NOITE DE VENTO
Sem telhado oscilam as torres.
Vigiadas
Pelo galo dos cataventos.
O que debulhou os tetos
com seu bico de bronze.
Sem telhado
oscilam as torres.
Nesta de pedra
um refugiado comeu
sementes e raízes
de seu jardim lembrado
até os pássaros migrantes
virem fazer ninho
em seus cabelos frios.
Nesta de grade
apenas as aranhas
teceram - se não cantaram -
vagarosamente o silêncio
de leões prisioneiros.
Nestas investidas
de relógios e gerânios
cobriram-se de vitrais
os adolescentes.
Oscilam as torres
como espigas secas oscilam as torres.
4. página 73
Tarde e desejo
cobertos de angras.
Talvez
o sono mais límpido flutue
letargia e jardins
sobre as algas serenas de outras horas .
...[
continua aqui
Comments
Post a Comment