Diário de Bordo - parte 3.8 - de Marigê

Diário de Bordo, de Marigê Quirino Marchini.

São Paulo, 1958.

Parte 3 - Margem

Neste blog, parte 3.8


...

página 217


AUSÊNCIA 


As parreiras perderão sua orla de dezembro 

mesmo antes de lembrarem-se das chuvas 

e não haverá vindimas 

para o frágil azul que se antecipa

como um pássaro exilado no seu próprio canto. 


Tão só e tão apenas lagoas segredarão 

lendas de outono ou inverno, não importa, 

que as folhas serão como água sobre os pálidos dizeres 

caracteres de nuvens abrindo o reino dos silêncios. 


Haverá assim um dilúvio em cada coisa 

o reino das plantações se enredará como um novelo inútil 

nas mãos de fiandeiras mortas. 

Por isso as flores serão apenas o que poderiam ser 

esquecendo visões sonhadas ou contadas 

nos pântanos que erguerão suas raízes. 


...



página 219


CREPÚSCULO  


Cada luz acendida

é uma gare de partida 

para a lua dos cisnes. 

Doutro lado das lendas 

estrelas serão gravadas 

no sono das águas.  



página 221 


NOTURNO 


Roçam as árvores

o sono dos sótãos 

e o luar é musgo

sobre teu nome.  


...

continua aqui

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