Posts

Showing posts from February, 2021

Balada dos quatro ventos - página 18 ss - Marigê

Image
  CADÊNCIA  A noite campeia. A noite campeia  com um laço de vento,  rédea de estrelas.  A noite campeia os desvairados sonhos perdidos  que fogem, devoram as claras vigílias.  A noite campeia.   Que aperte em seu laço, desejos sem dono  - tão longe estão que mais se assemelham a vagos luares.  Que aperte em seu laço, não importa se então  os vagos desejos, luares sem dono,  sejam levados às terras marcadas dos sonhos inúteis.  Que a noite campeie.   Marigê Quirino Marchini   Balada dos Quatro Ventos São Paulo, 1956.  página 18  ...                                                                                           ...

Balada dos Quatro Ventos - páginas 11 a 17 - 1956

Um poema para Mozart inicia esta seção. Marigê é uma poeta contemplativa e filosófica, sua poesia é uma elaboração estética elevada, e exige empenho de quem empreende a leitura, e provavelmente essas características a diferenciam da tradição lírica comum em terras brasileiras.   página 11    BALADA DE 27 DE JANEIRO DE 1756  No momento revelado em que Pan soou sua flauta, a relva amparou a relva no verde estático da manhã. As túnicas vegetais imobilizaram seus gestos  de pássaros e vento.  E as nuvens paralisadas em algemas de promessa eram pranto contido nos olhos do vale. Cessou o murmúrio antigo com sabor de dríades. Nascia uma criança, e na música de suas mãos  Pan colocou o silêncio das coisas inanimadas  para que ela o transformasse em flautas múltiplas de mistério e tempo.    --- página 12  VERÃO  A Françoise Sagan   Dança o verde nas folhas e as sombras dos pinheiros formam um ballet aquático no retângul...

Balada dos Quatro Ventos - 1956

Balada dos Quatro Ventos Marigê Quirino Marchini São Paulo, 1956 página 7 BALADA DA COR A Renato Gutussa.   Antes era o verde. A vibração das cores não abrangia o ouvido das coisas. Havia uma uniformidade quieta perdida entre a espera e o tom. As árvores pesadas ainda ignoravam o desdobrar do gesto em pássaros e frutos, e a relva humilde não desprendera do todo compacto seus dedos leves, feitos para as últimas ressonâncias dos luares. Mas a imagem desceu, as mãos de chuva suspendendo espaços florais. O claro rosto em mosaico de dias vividos e tardes irrealizadas. Lenta como o sorriso dos anjos, seus pés marcavam o roteiro das asas das abelhas que viriam deixando luzes de pólen nos caminhos estéreis.  Jardins equilibraram-se em seus olhos onde a música sem princípio escolheria o começo. Então rolaram mundos como órbitas cheias de orvalhos e seiva luminosa sobre o verde do antes e da sombra. ... página 8 PASTORAL Nos violoncelos verdes dos bojos das árvores, o molto moderato d...

Da Tripulação - em Sonetos do Imperfeito - do Mar

Image
  Sonetos do Imperfeito: Do Mar   DA TRIPULAÇÃO  Os tripulantes são meus sentimentos  de um azul andantino nestes mares, na alternância das vagas em lamentos. Leva o prumo das linhas estelares os olhos do abissal ao infinito, o que já não aquieta o coração: antes o traz por música celeste, pelo surdo marulho dos abismos suspenso em si, no mar, no precipício. E se um silêncio cresce no intervalo de um suspiro, das ondas, tempestade, revoltam-se do ser as ressonâncias,  pedem ao céu o eterno de outros mares, perdem no mar o efêmero dos céus. MARIGÊ QUIRINO MARCHINI  Sonetos do imperfeito Littera Editores, 1984  página 13   Veja também o livro  Diário de Bordo, de 1958

Enunciação Marinha - em Sonetos do Imperfeito - do Mar

  ENUNCIAÇÃO MARINHA Mar salgado, mar adjacente, mar alto, mar continental, mar costeiro, mar da lua, mar de leite, mar de rosas, mar de sargaço, mar encapelado, Galápagos, mar encarneirado, mar interior, mar isolado, mar litoral, mar mediterrâneo, mar pleno, mar territorial, de mar a mar, vento de travessia, vento escasso, vento feito, vento largo, posteiro, travessão, ventos repugnantes, ventos gerais, ventos etésios, vento de repiquete, vento de feição, vento de rajadas, lais de guia, volta de fiel, Mar Tenebroso, nau corsária, Nau Catarineta, Holandês Voador, Hébridas, SERENIDADE DO MAR CENTRAL,  Ondas, ondas, ondas, ondas, abordagem, mar mares.  Marigê Quirino Marchini Sonetos do Imperfeito São Paulo: Littera Editores, 1984.  página 17  Veja aqui o livro  Diário de Bordo - Marigê - 1958